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Mostrando postagens de junho 17, 2014

Zico, Zeffirelli e a energia abandonada

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Por Antonio Callado Está bem arraigada no espírito da gente a ideia de que permitimos que se separasse, em nossa cultura, o físico do espiritual. A imagem que nos obceca – aparentada à do paraíso perdido ou a de alguma fazenda em que tenhamos passado a infância – é a das antigas olimpíadas, em que a poesia e os cânticos se misturavam às competições. Sófocles, como lutador, era muito bom no ringue. E era dançarino. Liderou em 480 a.C. o coro que celebrou a vitória de Atenas contra os persas. Era então um jovem atleta. Desfilou pelado. No entanto, reconhecidas as diferenças, surge uma suspeita. A de que se os intelectuais e artistas perderam, por preguiça, contato com o mundo dos músculos e do esforço físico, os atletas continuam ligados ao mundo da emoção e do esforço mental, mesmo em pleno reino do profissionalismo. Vejam o futebol. As imagens da Copa estão ainda com a gente. Tanto as equipes modestas – a de Honduras, por exemplo, ou a dos Camarões, – como as da Fr

Copa do Mundo de Literatura

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Sim, o futebol, tema que vimos perscrutando em alguns nomes da literatura nacional e estrangeira num conjunto de compilações que tem circulado por aqui quase que diariamente nesse período de Mundial, pode ser um elemento e tanto para falar sobre literatura! Publicação do caderno “Galeria” do jornal A Tribuna , de Santos, nosso colunista Alfredo Monte trouxe a magnífica ideia de uma listinha básica com dicas literárias de países que estão na Copa do Mundo. Ao invés de um embate para no final sair um ganhador, todos os citados são ganhadores e merecem, certamente a atenção dos leitores. “Infelizmente, não é possível estabelecer uma relação de igualdade entre as produções literárias dos países participantes da Copa por uma razão muito simples: a lacuna nas traduções. Nenhum escritor de Camarões (Grupo A), da Costa do Marfim (C), sequer da Costa Rica (D), ou do Equador e Honduras (o que desfalca muito o grupo E), e olhe que são países do nosso continente, falantes de uma língua-ir

Em “Fazenda Modelo” ele deu nome aos bois

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Por Dirceu Alves Jr “De cada três músicas que faço, duas são censuradas. De tanto ser censurado, está ocorrendo comigo um processo inquietante. Eu estou começando a me autocensurar. E isso é péssimo.” Em desabafo publicado na imprensa no início dos anos 70, Chico Buarque assumiu que não estava tão imune ao objetivo da ditadura militar – o de calar ou, pelo menos, inibir a criatividade do artista. Depois de 14 meses de exílio na Itália, entre 1969 e 1970, o compositor reencontrou o Brasil no auge da repressão com o governo de Emílio Garrastazu Médice (1969-1974). O veto ao samba “Apesar de você” inaugurou uma sequência aparentemente infindável e, mesmo que o álbum seguinte, Construção (1971), tenha saído sob a condição de que Chico alterasse alguns versos, o compositor sentiu a necessidade de ares menos viciados para respirar. Procurou driblar a birra dos homens de farda no teatro, criando ao lado do cineasta Ruy Guerra o musical Calabar – o elogio da traição . Às vésperas