Boletim Letras 360º #39



16 de novembro é para ser um dia diferente dos demais – diferença que depois espera ser tornada em gesto comum, mas nunca sem perder o status quo da diferença. Foi nessa data que nasceu o escritor José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, o único até hoje atribuído a um escritor de língua portuguesa. Não pela honraria, mas Saramago é além de um dos grandes nomes da literatura, uma figura que nunca se cansou em fazer do seu pensamento inquietação sobre a ordem do mundo. E diante dessa constatação, que não mera observação vazia, a obra saramaguiana está aí para dizer-nos sobre essa inquietação perante as coisas, a Fundação José Saramago elege a data de hoje como o Dia do Desassossego. Tal como o Dia de Bloom, que celebra o dia da personagem de Joyce por Dublin no célebre romance Ulysses, o Dia do Desassossego tem motivações de revisitar O ano da morte de Ricardo Reis e mais que celebrá-lo, fazê-lo ação, a de não contentar-se com o espetáculo vazio do mundo.

A semana que hoje finda também foi de celebrações a outro romance (e o boletim terá suas várias entradas sobre): No caminho de Swann, texto de abertura dos sete que integram a monumental obra Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust. Três importantes textos sobre a literatura do francês foi traduzido do espanhol para o português e apresentados desde o dia 13 de novembro, véspera da data oficial de apresentação de No caminho, até o dia 15.

Segunda-feira, 11/11

>>> Portugal: Livros, manuscritos e outros registros de Fernando Pessoa em leilão

Uma primeira edição de Mensagem, único livro publicado em vida por Fernando Pessoa, foi a leilão, em Lisboa, assim como uma edição rara dos seus English Poems. Soma-se ainda manuscritos, outros livros e "uma substanciosa coleção de gravuras", e álbuns antigos de autógrafos e fotografias.

>>> Brasil: José Saramago na estação de metrô de São Paulo e um festival internacional herdado de sua obra

O escritor da frase "O fim de uma viagem é o começo de outra" e que fez do tema motivo para sua obra, recebe uma justa homenagem em São Paulo. Na mostra, há o histórico do Festival Sete Sóis Sete Luas, lançado originalmente por um grupo de estudantes italianos, e um pouco da biografia e fotos do Prêmio Nobel de literatura, que podem ser apreciados pelos cerca de 60 mil passageiros que passam diariamente pela estação Corinthians-Itaquera, onde o material está exposto. Na exposição está também a reprodução de 18 cartazes e manifestos produzidos para o Festival Sete Sóis Sete Luas por diversos artistas, inclusive o de 2013, desenhado pelo italiano Ugo Nespolo. Estão ainda disponíveis reproduções de cartas trocadas por Saramago e pelo diretor do evento, o italiano Marco Abbondanza. A mostra, feita com apoio dos Correios, decorre no mês em que o Brasil recebe a 21.ª edição do Festival Sete Sóis Sete Luas, evento realizado entre 14 e 16 de novembro, nas cidades de Aquiraz e Pacatuba, no Ceará, na região nordeste do país. Entre os participantes, estão os músicos do grupo Korrontzi, do País Basco, e o português Custódio Castelo, segundo o programa dos organizadores. Em 21 anos de existência, o festival cultural já passou por diversas cidades, de 13 países, Grécia, Espanha, Cabo Verde, França, Marrocos, Croácia, Brasil, Romênia e Tunísia, Israel, Itália, Eslovênia e Portugal.

>>> Irlanda: A Dublin de James Joyce

O Instituto Cultural Google chamou a nossa atenção antes, com suas exposições virtuais sobre a ascensão da Torre Eiffel, a queda da Cortina de Ferro, e muitos outros capítulos notáveis da história humana. Hoje, dê uma olhada por lá que o espaço colocou um pé na literatura e na história: "Dubliners - as fotografias de J. J. Clarke da Biblioteca Nacional da Irlanda: um vislumbre da Dublin de James Joyce" é o nome da mostra on-line que apresenta fotos tiradas por Clarke, na virada do século 20, quando ele veio para a capital irlandesa para estudar medicina. Sua abordagem "photojournalistic" a seus súditos lhe permitiu capturar cenas vivas do cotidiano de Dublin - homens, mulheres e crianças. Isso fez com que Clarke se tornasse um contemporâneo de Joyce, por suas "imagens também nos mostrar como a cidade parecia aos olhos do escritor", cujos trabalhos mais conhecidos nessa empreitada de descoberta da cidade – um conto na coleção "Dubliners" e os romances Retrato do Artista Quando Jovem e Ulisses – todos estão situados nesse tempo, quando Joyce também era um jovem estudante fascinado pelo mundo ao seu redor. Tanto o fotógrafo quanto o romancista, em suas formas distintas, definem uma imagem que captura as várias faces cidade, a época e sua cultura. As fotos de Clarke em destaque no Instituto Cultural Google poderiam facilmente ilustrar qualquer um dos livros de Joyce. Para ver aqui.


Terça-feira, 12/11

>>> Brasil: Paraty para Millôr Fernandes

A edição de 2014 da Festa Literária Internacional de Paraty homenageará o escritor e o desenhista. O evento que acontece de 30 de julho a 3 de agosto, deve trazer debates e exposições sobre o autor. A ideia do curador da FLIP, Paulo Werneck contraria a forte campanha realizada na web por vários setores e nomes ligados à literatura que tinha a figura do romancista Lima Barreto como ideal para ser o ponto-chave do evento.

>>> Inglaterra: Agatha Christie, a rainha do suspense

A escritora mostrou que ainda é insuperável quando se trata de histórias de suspense. Na última semana, foi eleita a melhor escritora britânica do gênero pela Associação de Escritores Policiais do Reino Unido, que celebra 60 anos este ano. Além disso, o melhor livro da categoria também ficou com Agatha. O título premiado foi O assassinato de Roger Ackroyd, uma das primeiras histórias do detetive belga Hercule Poirot, protagonista de uma das obras clássicas da autora. Outro popular personagem inglês de histórias policiais não ficou de fora da votação, Sherlock Holmes. Ao lado do fiel parceiro, Dr. Watson, o detetive criado pelo escritor britânico Arthur Conan Doyle foi homenageado como a melhor série de detetive da literatura inglesa.

>>> Brasil: Festival reúne grandes nomes em torno do gênero biografia

Trata-se do Festival de Biografias é realizado entre os 14 a 17 de novembro, em Fortaleza, com curadoria literária do Blog do Mário Magalhães, autor de Marighella, que convidou para os debates nomes como Fernando Morais (Olga, Chatô, entre outros), João Máximo (Noel Rosa), Josélia Aguiar (Jorge Amado, em andamento) Lira Neto (Getúlio, entre outros), Lucas Figueiredo (Tiradentes, em andamento), Luiz Fernando Vianna (Aldir Blanc, Zeca Pagodinho), Paulo César de Araujo (Roberto em detalhes), Regina Zappa (Gil), Ruy Castro (Anjo pornográfico, Garrincha, entre outros). O evento terá cinema (ciclo Silvio Tendler) e música (Jards Macalé, Jorge Mautner).

>>> Brasil: "Liberdade para as biografias"

Um grupo de 200 acadêmicos divulgou um manifesto a favor das biografias não autorizadas. O texto "Liberdade para as Biografias" é redigido pelo professor Marcelo Rede, do Departamento de História da USP, e tem as assinaturas de historiadores, biógrafos, intelectuais e professores universitários, incluindo nomes como os de Alfredo Bosi e José Murilo de Carvalho. A carta reivindica a total liberdade para a pesquisa sobre personagens históricos e repudia a censura prévia de obras. "As trajetórias pessoais não são uma mercadoria. O direito de escrever sobre elas não deve ser objeto de negociações ou de contratos comerciais. A mercantilização dos temas e dos personagens históricos compromete a independência do autor." O texto completo pode ser lido aqui.


Quarta-feira, 13/11

>>> Brasil: Antologia com a poesia completa de Manoel de Barros é reeditada

A primeira antologia foi publicada em 2010 pela Leya Brasil. Três anos depois e com os livros já esgotados, uma reedição sai agora em 2013. O volume que antes reunia Poemas concebidos sem pecado; Face imóvel; Poesias; Compêndio para uso dos pássaros; Gramática expositiva do chão; Matéria de poesia; Arranjos para assobio; Livro de pré-coisas; O guardador de águas; Concerto a céu aberto para solos de ave; O livro das ignorãças; Livro sobre nada; Retrato do artista quando coisa; Ensaios fotográficos; Tratado geral das grandezas do ínfimo; Poemas rupestres; Menino do mato; Exercícios de ser criança; O fazedor de amanhecer; Cantigas por um passarinho à toa; e Poeminha em Língua de brincar traz um poema inédito escrito em 2013 pelo poeta intitulado "A Turma" e também o volume Escritos em verbal de ave, publicado em 2011.

>>> Holanda: Ana Frank completa

A autora do famoso Diário escreveu também cartas, relatos e poemas durante sua curta vida. No seu esconderijo em Amsterdã onde tentou fugir dos nazistas com sua família entre 1942 e 1944, a cronista mais reconhecida dos horrores do Holocausto sonhou em deixar seu eco na literatura depois de findada a II Guerra Mundial. Durante um tempo ensaiou um livro a quem chamou de Diário do Egito com recortes de uma revista de artes. Uma produção literária e epistolar ampla – com várias cartas e o esse diário ilustrado permaneciam ainda inéditos e agora são reunidos, pela primeira vez, num só volume, pela editora holandesa Prometeus. Intitulado simplesmente como Anne Frank, Verzmald Werk (“Anne Frank, obra completa”) e com mais de 700 páginas, o livro foi publicado este mês. O livro inclui ainda fotografias da menina Anne, sua família e várias versões do “Diário” – a obra que se escrevia num caderno a que ela chamou de Kitty.

>>> Alemanha: Uma lista com 25 das mais de 1.400 telas encontradas escondidas em Munique

O caso rodou o mundo e conforme falamos por aqui um senhor de oitenta e tantos anos mantinha escondido desde meados da década de 1940 um amplo acervo de mais de 1.400 telas de artistas famosos, todas apreendidas pelo regime nazista e algumas julgadas já nem mais existirem. Nesta semana a polícia alemã, depois da pressão cobrando mais transparência nas investigações, decidiu dar início a publicação dos títulos aí encontrados. Na primeira leva estão 25 trabalhos de artistas como Otto Dix, Marc Chagall, Henri Matisse (FOTO), Antonio Canaletto, Eugène Delacroix, Max Liebermann, Auguste Rodin, Carl Spitzweg e Honoré Daumier, este último com o quadro intitulado “Dom Quixote e Sancho”, de 1865.

>>> Brasil: Marcel Proust pop

A Editora Zahar foi a que, no Brasil, primeiro pensou em tornar próxima dos leitores uma transposição do texto de Marcel Proust do formato convencional para outro formato: Em busca do tempo perdido também em sete volumes com ilustrações de Stéphane Heut é uma publicação que está em curso. Já a L&PM que iniciou uma proposta de transformar em mangá algumas obras da literatura anunciou que em junho de 2014 deverá sair nesse formato a obra do escritor francês.


Quinta-feira, 14/11

>>> Inglaterra: Um tour virtual pelo Globe Theatre de William Shakespeare

Construído em 1599 pela companhia de teatro de Shakespeare, o espaço recebeu algumas das maiores peças do bardo até que o local sofreu um incêndio 14 anos depois. Em 1613, durante uma apresentação de Henry VIII, um canhão de fogo pôs fogo ao telhado de palha e o teatro queimado veio chão em menos de duas horas. Reconstruído com um telhado de telha, o teatro foi reaberto em 1614, e permaneceu ativo até que administração puritana da Inglaterra fechou todos os teatros em 1642. Uma reconstrução moderna do Globo, chamado "Globe de Shakespeare" foi feita em 1997, a poucos metros de distância da estrutura original. Se você quiser ter uma ideia de como era o teatro de Shakespeare parecia, então não procure mais do que este tour virtual. Tudo que você precisa é instalar o plugin do Quicktime para o seu navegador e fazer um passeio de 360º pelo palco, os fundos do espaço, a galeria do meio , e a galeria superior... Tudo sem sair do lugar. Basta ir aqui.

>>> França: No caminho de Swann um dos mais populares romances franceses de todos os tempos

Em 1912 quando Marcel Proust havia findado No caminho de Swann o enviou a Jean Schlumberger e André Gide, da Nova Revista Francesa. Lido superficialmente o livro foi rejeitado. O escritor bancou por sua conta a primeira edição publicada em 14 de novembro de 1913. Ainda cedo, Gide deu-se conta do erro – “o erro mais grave cometido pela NRF”; Proust nunca o perdoou pela desfeita e só seis anos depois é que os primeiros volumes de “Em busca do tempo perdido” começariam a ser editados pela editora francesa. Hoje, as traduções para o inglês, chinês e japonês – as mais recentes da obra – já vão pela terceira edição e a versão francesa é uma das mais vendidas.

>>> Chile: Pablo Neruda não terá sido assassinado pelo regime de Pinochet

Sete meses depois das últimas análises de exumação do corpo do poeta chileno, as conclusões apontam que a morte de Neruda foi, sim, decorrente do câncer de próstata. Os dados ora revelados confirmam “várias leões de metástases em várias partes do esqueleto” e as análises também confirmam a “presença de fármacos para doenças oncológicas”.“Não foram encontrados agentes químicos relevantes que possam estar relacionados com a morte de Pablo Neruda. Não foram encontradas provas forenses de causas de morte não naturais”, disse Patricio Bustos, diretor do Serviço de Medicina Legal do Chile, citado pelo diário espanhol El Mundo. Contudo, a disputa legal em torno da morte do poeta, autor de obras tão populares como Canto General e Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada, pode não ficar por aqui. Os resultados serão entregues ao juiz e este se encarregará do processo, o chileno Mario Carroza, que já veio dizer não afastar a hipótese de novos testes e que o caso “não vai ser encerrado enquanto houver certas dúvidas”. Na origem destas dúvidas que envolvem as circunstâncias da morte do conhecido poeta chileno estão declarações do seu antigo motorista, Manuel Araya, que alegava que Neruda fora envenenado. Todo o caso que vimos acompanhando encontra-se explicado nos posts aqui e aqui.

>>> Brasil: 25 anos de um clássico de Arthur C. Clarke

A editora Aleph, especializada em clássicos de ficção científica, lança novamente no Brasil 2001: Uma Odisseia no Espaço com tradução Fábio Fernandes. O livro escrito por Arthur C. Clarke em 1968 já estava esgotado há alguns anos por aqui. Uma edição de luxo e com conteúdo inédito, como um texto in memoriam de Clarke para Stanley Kubrick. A edição acompanha uma tendência da editora que apresentou ainda em 2012, numa tiragem de luxo, a edição comemorativa dos 50 anos de Laranja Mecânica, de Anthony Burgess, outro clássico da ficção científica e também traduzido por Fábio Fernandes.


Sexta-feira, 15/11

>>> Brasil: O que dizem de Jack Kerouac

Os autores desta biografia oral de Jack Kerouac, Barry Gifford e Lawrence Lee, cruzaram os Estados Unidos durante três anos entrevistando “pessoas que Jack conhecia, amava e odiava”, para compor este documento histórico e literário sobre a geração beat e um de seus ícones por excelência. Misto de biografia minuciosa e “enorme conversa transcontinental”, O Livro de Jack – Uma biografia oral de Jack Kerouac, publicado por aqui pela Biblioteca Azul, Globo Livros, acompanha seu protagonista em sua trajetória obstinada em busca de uma prosa afinada com o jazz, enquanto abria mão de uma carreira esportiva como jogador de rúgbi e entrava e saía — de imediato — de múltiplos empregos, tanto quanto de casamentos breves.

>>> França: Tudo em torno de Marcel Proust

A Gallimard reúne seus esforços em torno de um dos ícones culturais de maior prestígio na França – Em busca do tempo perdido. Dentre as novidades, uma edição limitada a 1 200 exemplares, fac-símile do manuscrito de A prisioneira. Além disso, a publicação de uma edição de com cartas inéditas de Proust a Severine, sua vizinha no bulevar Haussmann; cartas que segundo os editores são “divertidas, graciosas e emocionantes” e que foram conservadas pelo neto da amiga do autor. E, por fim, um luxuoso boxe chamado Um amor de Swann que inclui as ilustrações que foram publicadas sobre a desejada Odette e seu grande amigo.

>>> Brasil: Edição recupera texto de Paulo Mendes Campos

Tem pelos três décadas que está fora de catálogo Diário da Tarde, mas a obra do cronista ganhará uma nova edição nos próximos dias pelo Instituto Moreira Salles. O livro sairá no mesmo formato tabloide, idealizado pelo mineiro. A obra reúne 20 edições do jornal imaginário do autor, cada uma delas com oito seções fixas, tratando do temas que vão do futebol a literatura.

>>> Brasil: Duas esperadas edições por vir

A Editora 34 amplia seu catálogo com duas obras de peso: já em dezembro publica Memórias de um caçador, de Ivan Turguêniev; livro publicado em 1892, e que traz 25 contos nos quais o tema central é caçada, mas não o termo comum, mas uma metáfora para o contexto sócio-político vivido pela Rússia da época. O outro título é o clássico cult Sátántangó, do húngaro László Krasznahorkai, que originou filme homônimo de sete horas e meia de Béla Tarr, de 1994. Mais sucinto que a versão audiovisual, o romance de 320 páginas que trata de uma vila impactada pelo retorno de um ex-morador com ares messiânicos deve sair até 2014.

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