A lista de leitura de F. Scott Fitzgerald




1936 talvez tenha sido o ano pior da vida de F. Scott Fitzgerald. O escritor esteva em convalescença num hotel em Asheville, na Carolina do Norte, quando ofereceu à sua enfermeira uma lista com 22 livros que ele achava essencial a leitura. A lista acima foi escrita apoiada na mão da enfermeira.

Fitzgerald havia se mudado para Asheville’s Grove Park Inn em abril daquele ano após a transferência de sua esposa Zelda, que passava por um tratamento psiquiátrico, para o Hospital Highland, vizinho ao hotel em questão. Foi o mês em que o jornal Esquire publicou seu texto “The crack up”, em que confessa sobre a tomada de consciência de que sua vida havia sido um desenho com os recursos que ele não possuía, por isso estava condenado a hipotecar-se fisicamente e espiritualmente até o fim.

Os problemas financeiros e com a bebida chegaram nessa época ao limite. E para completar, o escritor fraturou o ombro durante um mergulho na piscina do hotel e, algum tempo depois, de acordo com Michael Cody, da Universidade da Carolina do Sul, especialista na obra do estadunidense, ele disparou um revólver aleatoriamente numa ameaça de suicídio, depois do hotel ter se recusado a deixá-lo ficar sem uma enfermeira.  

Ele próprio contou para Dorothy Richardson, cuja função era servir de companhia e tentar mantê-lo sem beber muito. A convivência entre os dois acabou produzindo uma relação de amizade a ponto de Fitzgerald se interessar em educá-la literariamente. A lista de leitura é prova dessa atenção sua.

É uma lista idiossincrática. Fitzgerald parece ter restringido a seleção dos livros aos que constavam na época no catálogo da Modern Library. No topo da página, Richardson escreveu: “Estes são os livros que o segundo Scott devem ser de leitura obrigatória.” E segue:

Sister Carrie, de Theodore Dreiser;
A vida de Jesus, de Ernest Renan;
Casa de bonecas, de Henrik Ibsen;
Winesburg, Ohio, de Sherwood Anderson;
O conto da carochinha, de Arnold Bennett;
O falcão maltês, de Dashiell Hammett;
O vermelho e o negro, de Stendhal;
Os contos, de Guy de Maupassant;
Um esboço sobre a Psicologia Abnormal editado por Gardner Murphy;
As histórias, de Anton Chekhov;
O melhor do conto humorístico americano editado por Alexander Jessup;
Victory, de Joseph Conrad
A revolta dos anjos, de Anatole France
As peças de Oscar Wilde
Santuário, de William Faulkner
À sombra das raparigas em flor, de Marcel Proust
O caminho de Guermantes, de Marcel Proust
No caminho de Swann, de Marcel Proust
Vento sul, de Norman Douglas
The Garden Party, de Katherine Mansfield
Guerra e paz, de Liev Tolstói
John Keats e Percy Bysshe Shelley, trabalhos poéticos completos


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