Sexo e literatura

Cena de O amante de Lady Chatterly, livro de D. H. Lawrence adaptado para o cinema

O post de hoje é para por muito marmanjo a melar a cueca e muita dondoca a revirar-se na cadeira. Não, não será uma aula de sexo e literatura ou de sexo na literatura ou ainda de literatura sobre o sexo. A observação é a de que - toda obra literária, desde a mais insignificante à mais sofisticada, já ousou por lá pelo meio do texto uma pitada de calor. Excessão aos mais insignificantes que fazem isso já logo nas duas primeiras linhas introdutórias do texto e vai recompondo as cenas capítulo sim capítulo não. 

Minha primeira vez na literatura não lembro bem. Mas, como o primeiro livro que li de ponta a ponta, porque afinal em casa de livro só havia ele, foi a Bíblia, creio que foi lá a minha primeira vez. Cântico dos cânticos. Tinha umas coisas que li enrubescido, ou pulei, ou inventei uma passagem outra para ler o que está ali - isso porque quando comecei a ler, lia em voz alta, para, na cozinha minha mãe ouvir-me. E, claro, eu adolescente ler putaria - ainda mais vinda de um livro sagrado - talvez não fosse bom tom para os ouvidos dela. 

Depois, vieram os da literatura propriamente dita. Dos livros da Agatha Christie não lembro de ter lido alguma cena de sexo. Acho que as personagens estão muito envolvidas em desvendar crimes que se esquecem de pecar do lado de baixo da lei. Agora, com O cortiço, do Aluísio Azevedo... Não mais enrubesci, me excitei mesmo com as lições lésbicas de Pombinha. Olhem o nome (sugestivo) da personagem. 

E tudo foi se transformando numa pura vadiação. Lolita, de Nabokov, Hilda Furacão, de Roberto Drummond, Gabriela, de Jorge Amado, O amante de Lady Chatterley, D. H. Lawrence, A casa dos budas ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, A fúria do corpo, de João Gilberto Noll, A obscena senhora D., de Hilda Hilst etc. - só mesmo para citar aqui algumas das obras e alguns dos escritores que povoaram ou reinventaram as formas de contar o sexo.

Pois é, a coisa é mesmo séria. Já até instituíram um prêmio literário que se chama "Bad Sex in Fiction Award", oferecido pela revista inglesa Literary Review. Ganha o prêmio, o autor da pior cena de sexo da ficção. O prêmio poderia não existir para que percebêssemos que escrever sobre sexo é sim um desafio, porque não é somente evocar a atração física dos corpos, a grandiosidade dos orgasmos, é fazer isso, mas sem cair no bestial ou no rídiculo. 

A seguir uma pequena lista de dez livros clássicos apresentados (ironicamente) pelo escritor Rowan Somerville - um dos vencedores do "Bad Sex in Ficton Award" - ao The Guardian e que, figura, para ele, entre os que melhor fizeram uma escrita sobre o sexo:

10. Plataforma, de Michel Houllebecq (2003);
9. A história de O, de Pauline Réage (1954) - leia trechos do romance no Germina Literatura, aqui;
8. Um jovem americano, de Edmund White (1982);
7. Thongs, de Alexander Trocchi (1955) - sem tradução no Brasil;
6. Dracula, de Bram Stroker (1897);
5. O amante de Lady Chatterly, de D. H. Lawrence (1928);
4. The Bloody Chamber and Other Stories, de Angela Carter (1979) - também sem tradução no Brasil;
3. História do olho, de Georges Bataille (1928);
2. Pétala escarlate, flor branca, de Michel Faber (2002);
1. Lolita, de Vladimir Nabokov (1955).



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