José Cardoso Pires

O escritor José Cardoso Pires sentado a uma mesa do "Bar Americano". Fotografia não datada e retirada de um número da revista "Ler" editada pelo Círculo de Leitores. Fonte: Blog Cais do Olhar





José Cardoso Pires não é um fenômeno, no sentido glorioso retirado deste contexto capital, mas é, sem dúvidas, um dos que melhor aprenderam a lição de mestres como William Faulkner e Ernest Hemingway e se tornou referência obrigatória entre leitores e escritores de língua portuguesa. Não é coincidência, portanto, que outros importantes nomes da literatura em Portugal lhe façam vênias, sobretudo aqueles escritores que escolheram a escrita como exercio de criação não só narrativa mas estética, engendrando novas possibilidades de contar e de compor a sintaxe do texto; esses são nomes como Lídia Jorge e António Lobo Antunes. E há, nesse contexto de criação de Pires, dois romances bem conhecidos do leitor brasileiro: Balada da praia dos cães e O delfim.

O escritor nasceu em outubro de 1925, na aldeia de Peso e foi para Lisboa onde viveu até outubro de 1998, mês e ano da sua morte. A crítica o tem como um dos mais figurativos e importantes escritores de língua portuguesa da segunda metade do século passado. Segundo nota escrita por Eunice Cabral para a página de escritores na web do Instituto Camões, o trajeto pessoal do escritor, bem como sua carreira, "são marcados pela inquietação e pela deambulação. Não se identifica com nenhum grupo, nem se fixa em nenhum género literário, apesar de ser considerado sobretudo como um romancista. A característica mais evidente da sua não muito vasta obra (são ao todo dezoito os seus livros publicados em quase cinquenta anos de vida literária) é o facto de cada livro seu inaugurar e completar um ciclo de criação literária. Nenhuma das suas obras se tornou uma fórmula que viesse a repetir, apesar de ser possível reconhecer linhas de evolução da sua escrita literária. O seu primeiro livro foi publicado em 1949 e o último em 1997." 

Eunice aponta que "a relação mais consistente e duradoura, no campo literário, deu-se com o movimento neorrealista português até ao 25 de Abril de 1974, não tanto por razões de defesa ou de prática de um tipo canónico de estética empenhada, mas, sobretudo, pela adesão a uma política de resistência ao regime autoritário português." Comunista, o escritor está entre os vários nomes que por essa época mantiveram uma adesão pela realocação da humanidade nos trilhos da civilização. 

De seu leque bibliográfico impossível não citar Jogos de azar (1963), O hóspede de Job (1963) e O Delfim (1968), além de Balada da Praia dos Cães (1982), que virou Best-Seller na época de sua publicação, e sua última obra De profundis, Valsa Lenta (1997), um relato pessoal sobre o grande drama que o abateu: a perda repentina da memória causada por um acidente vascular. Além da leva de contos em Jogos de azar, tem outras duas antologias com textos do gênero, O Burro-em-Pé (1979) e A República dos Corvos (1988). Escreveu ainda duas peças de teatro, O render dos heróis (1960) e Corpo-delito na sala de espelhos (1980). E a reunião de crônicas publicadas no jornal “Público” em A cavalo no Diabo (1994).


* Via Instituto Camões

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Boletim Letras 360º #576

O som do rugido da onça, de Micheliny Verunschk

Dalton por Dalton

Boletim Letras 360º #575

Boletim Letras 360º #570

Boletim Letras 360º #574