Mostra itinerante sobre Jean Rouch em Natal

Por Mateus Araújo da Silva


cena de Jaguar (1967)

Cineasta de mais de cem filmes e antropólogo de extensa obra escrita, Jean Rouch (1917-2004) atravessou o século como se vivesse sete vidas cheias de facetas e paradoxos. Ele foi ao mesmo tempo eminência parda do cinema francês moderno, antropólogo africanista com Doutorado defendido na Sorbonne em 1952 sobre os Songhay, pesquisador do CNRS por anos a fio e autor da obra mais importante de todos os tempos no campo do filme etnográfico. Como objeto privilegiado do seu trabalho, elegeu alguns países da África Ocidental (sobretudo Níger e Mali, mas também Costa do Marfim e Gana), dos quais nos deixou um acervo de imagens e sons sem paralelo. Mas também filmou muito na França e noutros países, revelando sempre, por onde tenha andado, curiosidade pelas diversas culturas e vontade de compreendê-las.

Com o Brasil, Rouch estabeleceu uma relação de amizade e interesse recíprocos desde os anos 60, quando nos visitou pela primeira vez, por ocasião do Festival do Rio de 1965. Depois, voltou várias vezes, encontrou nossos melhores cineastas, acalentou projetos de filmes por aqui (jamais realizados) e marcou sensibilidades. Apesar destes vínculos históricos, de alguns lançamentos em DVD de seus filmes e de alguns estudos recentes, a difusão e o conhecimento da sua obra entre nós permaneciam parciais e lacunares. Para ajudar a preencher esta grave lacuna no ambiente cultural brasileiro, a Associação Balafon realizou em quatro capitais (São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília), de junho a agosto de 2009, sob os auspícios do MinC, de sua Secretaria do Audiovisual, do Instituto Moreira Salles e de uma série de parceiros institucionais no âmbito do Ano da França no Brasil, uma ampla Retrospectiva de 90 filmes, secundada por Colóquios internacionais e ciclos de conferências sobre o antropólogo cineasta.

Sob a curadoria de Mateus Araújo Silva, a Mostra Itinerante é uma versão reduzida da mostra de 2009 e percorrerá outras 6 capitais brasileiras – Belém, Salvador, Porto Alegre, João Pessoa, Natal e Recife – no intuito de levar a um público maior esta obra essencial para a construção do cinema etnográfico. Com um conjunto de 37 filmes, divididos em 17 programas, o curador privilegiou alguns dos momentos mais bonitos e mais fortes do cinema de Rouch, procurando apresentá-lo em suas diversas facetas.

A programação completa, pode ser acessada aqui.

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