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Mostrando postagens de junho, 2010

Stardust - o mistério da estrela, de Matthew Vaughn

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O filme está baseado no universo fantástico de Sandman , história em quadrinhos de Neil Gaiman cuja narrativa é uma releitura do clássico conto de fadas; sim, no mundo redesenhado pelo britânico há bruxas más em busca de uma fórmula da juventude, elfos, reis, príncipes, enfim, todo um acervo da milenar cultura nórdica.   E todo esse universo é traduzido pelo cinema de Matthew Vaughn. Em uma pequena vila, o jovem Tristan Thorne (Charlie Cox) promete a sua amada Victoria Forester (Sienna Miller) buscar uma estrela que caiu no reino mágico vizinho; a promessa é sinal de prova do amor de um pelo outro. Em sua jornada, ele irá se deparar com todas essas criaturas do universo encantado até descobrir que a estrela tem a forma de uma mulher encantadora e é criatura cobiçada por muitos. Para a crítica, o que chama atenção no filme é o roteiro e o trabalho dos atores. De fato, mas não são os novatos em cena. Claro, que há atuações mais desastrosas e o Charlie Cox, por exemplo, se mo

Um conto de Virginia Woolf

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Por Pedro Fernandes Não faz tanto tempo que ouvi falar sobre a literatura de Virginia Woolf. A primeira vez, acredito, foi num dos muitos congressos que tenho frequentado nos últimos quatro anos: lembro-me de uma comunicação sobre o conto "A marca na parede", conto que tive a oportunidade de ler muito recentemente e até o presente, na minha inocente visão, um dos melhores da coletânea Contos completos (Cosac Naify), edição que tenho me dedicado à leitura nesta última semana. Indo ao site da editora que publicou em 2005, no Brasil, uma edição dos Contos completos constato alguns dados biográficos da escritora inglesa. Virginia Woolf nasceu em 1882; foi leitora desde cedo, quando numa rara atitude permitida à mulheres de seu tempo, teve acesso à biblioteca do pai, Leslie Stephen, que era editor e esse ato permissivo fez com que desse à filha uma educação diferenciada ao que se era costume ser dada às mulheres. O contato com os livros é certamente o melhor caminho p

Exuberante deserto, de Dror Shaul

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Por Pedro Fernandes O filme de 2006 é mais uma peça do diretor israelense Dror Shaul. E é um texto de forte intervenção política porque toca em questões concernentes ao território do Oriente Médio. O que temos é um ano na vida do garoto Dvir, morador de um kibutz ao sul de Israel nos anos 1970. Todos sabem que esses assentamentos para comunidades judaicas criados desde 1948 são um estratégia de dominação e cerceamento sionista porque, antes de servir de preservação dos judeus é um modo de deixá-los à mercê do Estado e de todas as garantias subsidiadas por este, por exemplo. A estratégia de sobrevivência dessas pequenas comunidades foi a união numa coletividade, irmanadas pelo mesmo drama; dessa relação coletiva colocaram em prática o exercício de um modo de socialismo e auto-sustentabilidade, elementos cruciais, diga-se para se manter não apenas destituído das ações do Estado, mas, muitas vezes à mercê de um ambiente inóspito como é o deserto. Os kibutz acabaram por se tornar

Adalgisa Nery, a musa de várias faces

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Por Ramon Mello “Adalgisa e Adaljosa, Parti-me para vosso amor Que tem tantas direções E em nenhuma se define Mas em todas se resume. Saberei multiplicar-me E em cada praia tereis Dois, três, quatro, sete corpos De Adalgisa, a lisa, fria E quente e áspera Adalgisa, Numerosa qual Amor.”  Nestes versos do poema “Desdobramento de Adalgisa”, publicado em  Brejo das almas  (1934), Carlos Drummond de Andrade cantou as faces de Adalgisa Nery, poeta, jornalista e política, morta há 30 anos, em 7 de junho de 1980. Atuando em áreas tradicionalmente masculinas, Adalgisa colecionou amores e, também, alguns desafetos, mas conquistou reconhecimento e espaço na intelectualidade brasileira. No fim da vida, Adalgisa escolheu a solidão, recolhendo-se num asilo em Jacarepaguá.  Adalgisa Nery estreou na literatura após a morte do pintor modernista Ismael Nery (1900 - 1934), seu primeiro marido. Viúva, casou-se com o chefe do Departamento de Imprensa e Propaganda

Um caderno para Saramago: página um ou a capa

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Por Pedro Fernandes José Saramago durante leitura de As intermitências da morte , Feira Internacional do Livro, Teatro Diana, Guadalajara, México, novembro de 2006. Foto: Iván García. Que quem se cala quando me calei não poderá morrer sem dizer tudo (José Saramago, Os poemas possíveis ) O meu contato com a obra de José Saramago vem ainda quando da Graduação em Letras, meados do quinto para sexto semestre, em finais de 2006. Na época estava passando por um período de transição para os estudos com o texto literário; foi quando encontrei na biblioteca da faculdade  O evangelho segundo Jesus Cristo , primeiro romance do escritor que tive a oportunidade de ler. Logo, minha atenção se voltou para um aspecto quase que unânime e corriqueiro aos que se deparam a primeira vez com a obra mais conhecida do autor: o estilo típico de narrar, que preserva o fôlego da oralidade no trajeto de escrita, fazendo do texto literário “exercício muscular” (usando termos do escritor na ent

Um Convidado Bem Trapalhão, de Blake Edwards

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Este é o único filme da parceria entre Blake Edwards e Peter Sellers que não faz parte da série A Pantera Cor-de-Rosa  (1963-1982). Pode ser tomado como exemplo do modo de fazer comédia que marcou a dupla. Baseado em grande parte na capacidade de Edwards bolar situações engraçadas e na qualidade da atuação de Sellers, o longa acabou sendo visto também como uma denúncia do modo de produção pouco receptivo a novidades do cinema industrial (em particular) e dos Estados Unidos (de maneira mais ampla). O filme seria, então uma alegoria ao mostrar a introdução no ambiente (americano) de um elemento estranho (um indiano) que literalmente explode uma parte de Hollywood. Hrundi Bakshi (Sellers) é um ator indiano com grande tendência a provocar confusões. Destrói sem intenção um set de filmagens inteiro, o que queima sua imagem no círculo cinematográfico. Devido a um equívoco, ele é convidado a uma festa da alta sociedade hollywoodiana. Com sua presença, o caos com ares circenses lá i

José Saramago: irreperável perda

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Por Pedro Fernandes Abro este blog ainda marcado pelo imenso vazio que se fez no início desta manhã e que se expandiu com a leitura em sites e jornais diversos agora há pouco. Chorei a morte de José Saramago como se tivesse perdido um pai. É o leitor-admirador, sem as amarras do leitor-crítico, quem fala. Minha relação com a pessoa José Saramago se deu pela sua obra, afinal nunca fui um leitor guiado primeiro pelo efeito tiete  do escritor. Também cumpro bem minha recusa pela moda ou o lugar do fã . Todo fanatismo, ele próprio concordaria, é cego e burro.  Com Saramago, por através da obra e do seu pensamento dialogamos; sim, porque o escritor português foi dos que acreditaram sobre a impossibilidade de separar a pessoa civil do escritor pessoa do autor da obra. Um e outro, dizia, estão implicados. E justo por essa razão, e pelo cuidado que sempre teve em lidar com toda sorte de questões sobre a comunidade humana, ele me era, como para muitos, certo porta-voz para o mundo porque tin

Valter Hugo Mãe, o cantor

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Por Pedro Fernandes Foi através do Prêmio Literário José Saramago que conheci o nome Valter Hugo Mãe; e é uma pena que até agora só o remorso de baltazar serapião  tenha chegado desse lado do Atlântico. Que a Editora 34, que publicou essa obra, ou outra editora que venha adotá-lo, cumpra em vencer essa lacuna de divulgação da obra do escritor no Brasil. Afinal, não tenho lido nada mais que elogios ao seu trabalho e a recepção do prêmio Saramago deve dizer alguma coisa. Mas, não é sobre o escritor, que este registro quer falar: é que em janeiro deste ano, o periódico português  Jornal de Letras  trouxe uma nota breve de Manuel Halpern sobre outra face do nome Mãe: a do cantor. Isso mesmo: não temos cá um Chico Buarque (cantautor como chamam os patrícios)? Pois de lá vem o Mãe. Sabia já do José Luís Peixoto. A nota "O escritor que canta com maiúsculas", termo colocado em oposição à grafia com que tem escrito sua obra e incorporado na escrita (tudo em minúsculas, aliás,

Mostra itinerante sobre Jean Rouch em Natal

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Por Mateus Araújo da Silva cena de Jaguar  (1967) Cineasta de mais de cem filmes e antropólogo de extensa obra escrita, Jean Rouch (1917-2004) atravessou o século como se vivesse sete vidas cheias de facetas e paradoxos. Ele foi ao mesmo tempo eminência parda do cinema francês moderno, antropólogo africanista com Doutorado defendido na Sorbonne em 1952 sobre os Songhay, pesquisador do CNRS por anos a fio e autor da obra mais importante de todos os tempos no campo do filme etnográfico. Como objeto privilegiado do seu trabalho, elegeu alguns países da África Ocidental (sobretudo Níger e Mali, mas também Costa do Marfim e Gana), dos quais nos deixou um acervo de imagens e sons sem paralelo. Mas também filmou muito na França e noutros países, revelando sempre, por onde tenha andado, curiosidade pelas diversas culturas e vontade de compreendê-las. Com o Brasil, Rouch estabeleceu uma relação de amizade e interesse recíprocos desde os anos 60, quando nos visitou pela primei

O Império dos Sentidos, de Nagisa Oshima

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Oshima já era um veterano quando realizou em 1976, este polêmico drama de alta carga erótica. O diretor, que estreou em 1959 no conjunto de jovens cineastas talentosos que constituiu o que se tornou conhecido como Nouvelle Vague japonesa, acumula 46 títulos em sua filmografia. Mas foi a repercussão de O Império dos Sentidos  que tornou seu nome mais conhecido nos países ocidentais. Na esteira de O Último Tango em Paris , feito por Bertolucci em 1972, Oshima narra os encontros sexuais de um casal, que evolui do prazer a jogos de poder e dominação que culminam em tragédia. Amor e destruição caminham acoplados até um ápice em que a comunhão entre os dois e o sentimento que os aproxima não se distingue da necessidade de um ser destruído pelo outro. Sexo e morte, desejo e aniquilamento atravessam cada cena, numa espécie de ritual sobre os mecanismos de perversão em que a questão moral é abolida para que o espectador seja exposto a forças que não constam em seus hábitos visuais. 

Voltar a Caim (II)

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Por Pedro Fernandes José Saramago durante conferência de apresentação de Caim , Casa de las Américas, Madri, 2009. Foto: Eduardo Parra. Há no rol das opiniões dos leitores de Caim , último romance do escritor português José Saramago, uma lista não tão curta de comentários depreciativos - seja sobre o plano temático, seja  sobre o plano estético do romance. Volto a essa querela por entender que muita das opiniões são vazias e algumas de tão vazias chegam a ser uma ofensa para com o escritor e o romance em questão. Todo romance, esse é meu entendimento, é aquilo que ele é. Seu escritor é meramente um sujeito que, inquieto perante os relativismos do mundo, escreve. E na sua escrita vai junto modos seu de pensar e de ver o mundo. O grande propósito de Saramago, já dito por ele próprio em muitas entrevistas, está em desassossegar quem o lê. Entendo esse desassossegar como sendo o interesse do escritor e da sua literatura em chamar atenção para o valor de determinados discursos e ver qu

Saramago: Biografia, de João Marques Lopes

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Por Pedro Fernandes É com esse título que, um mês antes do previsto, chega às livrarias brasileiras a primeira biografia do Prêmio Nobel José Saramago - Saramago: Biografia . O nome por trás do feito é um nome de responsabilidade. Também, para uma personalidade do porte de Saramago, há que ser um nome de responsabilidade: João Marques Lopes, o autor de outras grandes biografias, como a de Eça de Queirós e a de Fernando Pessoa. Para quem é conhecedor de algumas linhas bussolares da pessoa que é o escritor português, ficará, ao terminar a leitura deste texto de João Marques, com um gosto de "quero mais" ou "poderia ser melhor". Para os que desconhecem Saramago, não sei precisar. Mas, tenho quase certeza de que não ficarão também saciados com essa incursão biográfica. São notas breves ou estaria nelas o que certa vez disse o próprio escritor, que na sua vida não há nada de muito interessante que sirva aos biógrafos? Mas, enfim, ressalto que o livro de Jo

Dogville, de Lars Von Trier

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Quando Dogville  estreou em 2003, dois aspectos ganharam destaque. O primeiro, formal, é introduzido desde a primeira cena. Em um cenário composto de pouquíssimos elementos, Dogville, uma cidade fictícia do Colorado, é mostrada de cima. Em vez de casas, portas, muros e árvores, divisões estilizadas e simbólicas indicam que se trata de uma cidade. Os limites entre as residências são traçados no chão e apontamentos feitos com giz apresentam outros elementos da narrativa. Assim, por exemplo, sabe-se que há um cão porque a palavra "dog" está escrita e não porque o animal aparece. A fala de um narrador reitera o tempo todo que se trata de uma encenação. Sob essa estrutura formal, ecoam as propostas desmistificadoras do chamado teatro épico formulado pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht. E a certeza de que o cinema de Von Trier não seguia mais com rigidez o Dogma 95, movimento fundado por ele e Thomas Vinterberg que se pautava por mandamentos como proibir filmagens em cenár

Encontrar Maria Valéria Rezende

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Por Pedro Fernandes O meu encontro com a escritora se deu por ocasião de uma conferência de encerramento para o III Encontro Nacional sobre Literatura Infanto-juvenil e Ensino (ENLIJE), realizado de 02 a 04 de junho de 2010, na Universidade Federal de Campina Grande. É a segunda vez que vou ao evento. Este, teve um caráter mais plural porque vem retomar minhas aproximações para com a literatura saramaguiana, posta na estante, desde que, fui para a leitura da obra de Chico Buarque e de outros escritores. Sobre tais obras de Chico e de outros escritores postarei comentários por aqui mais adiante.  Maria Valéria Rezende só veio justificar aquele conceito que eu já elaborei para palestras com escritores: são as melhores e mais lúcidas falas acerca de literatura que um estudante da área pode ouvir. Pensando no tema formação do escritor, a escritora deixou claro três coisas: há, pelo menos no caso dela, uma certa inclinação do sujeito para a escrita já desde a sua infância. I

Princípe da Pérsia, de Mike Newell

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Por Pedro Fernandes Não é um filme. É um misto de cinema e videogame. Inspirado mesmo num jogo  de videogame criado por Jordan Mechner ainda na década de 1980, Príncipe da Pérsia não engana nem a gregos e nem a troianos essa sua raiz. As personagens estarão todas à beira de algum precipício, de alguma peripécia, em saltos e acrobacias que, ao vermos, mais parece estarmos diante de um daqueles filmes japoneses de artes marciais, embora pouco tenha de artes marciais por aqui, e não num filme épico - tom forçado que seus criadores quiseram imprimir. Entretanto, a direção do filme peca. E peca muito. Há um certo artificialismo que vai, como as toneladas de areia que rolam durante todo o filme, amarelecendo aquilo que chamamos de realidade da ficção. Na verdade, o caso é tão grave, que, até as interpretações dos atores soa como teatro infantil. É, entretanto, um filme de energia coreografada. Quanto a beleza estética e ao enredo, não é nada dos melhores. Não é um filme de cinema

Jesus falava palavrão, de Eloésio Paulo

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Está aí um perfeito texto este do professor Eloésio Paulo. Vejo nele um apanhado de todos os posts que já publiquei por aqui cujo alvo estava o discurso religioso e suas imagens toscas. Notifico por este espaço porque, como Eloésio Paulo, creio que estamos – no atual desrumo – prestes a montar colônias de desmiolados. É que o poder da religião tem se metamorfoseado a ponto de atingir o reino da palavra – essa que pode tanto construir quanto destruir. É um poder superior ao da Inquisição porque é um poder sutil e cerceador. E esse poder está nas mãos não dos católicos, que se engalfinharam de vez no mercantilismo a ponto de não sabermos mais onde que termina a religião e onde que começa o capitalismo; esse poder está nas mãos de evangélicos, ou aquilo a que denominei de neo-cristãos. Esses são piores do que qualquer Inquisição. São cegos. Donos únicos da verdade. E acham que o mundo está dividido, incisivamente, entre Deus e o Diabo. Sendo que ao Diabo vão todos aqueles que discorde

A necessidade humana de expressão artística – parte I

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Por Pedro Fernandes Bisão, na Caverna de Altamira Se fizermos uma pequena viagem pelo que chamamos evolução da pintura, desde a Pré-História à contemporaneidade, teremos a oportunidade de algumas observações acerca da Arte que talvez nos ajude a melhor compreensão de alguns dos seus “problemas” antigos e modernos. Digo isso porque, apesar de não me ligar diretamente ao terreno das artes plásticas, mas em específico ao da literatura, (a literatura é uma forma de arte e como forma arte é influenciada por movimentos semelhantes aos que ocorrem noutros campos artísticos, como o das artes plásticas) ouço muitas vezes certos desaforos acerca de alguma obra de arte. Não quero, contudo, discutir aqui a questão “o que é arte”, mesmo sabendo que ela é inerente. Os desaforos de que falo (e esse é um dos problemas que perpassa toda a trajetória de constituição da arte) são aqueles do tipo “Como pode uma bobagem destas obter tanto valor no mercado?” ou “Isto, até eu faço! Mas, se fosse