Dez músicas a partir de Charles Bukowski



No dia 9 de março de 1994 morria um dos últimos escritores malditos do nosso tempo, Charles Bukowski. Um desses criadores que não nos deixa indiferente e que gerou uma paixão algumas vezes incondicional. Claro, cultivou e cultiva uma extensa galeria de gente que não gosta ou não tem qualquer simpatia por sua obra. As razões para as duas condições é uma só: amar e desamar um tipo piadista, misógino (e mulherengo), sujo, violento e interessado em todos os vícios imagináveis. 

É neste ponto de reflexão sobre o lado escuro da lua, onde Bukowski, através de seu alter ego Henry Chinaski, consegue encontrar ouro ao aprofundar-se na miséria dos perdedores mais defenestrados da sociedade. O escritor fez-se personagem de um tipo colocado à margem pelos mandos de gosto e consumo da sociedade a qual pertencia: os Estados Unidos e seus tentáculos capitalistas. E é neste ponto onde reside sua influência sobre a cultura popular, a revisão de alguns traços do erudito e um dos elementos cruciais para que sua presença tenha se manifestado em suportes tão diversos: do cinema à televisão, com penetração, nesse ínterim, na música. 

A seguir, apresentamos dez músicas que foram inspiradas em textos de Charles Bukowski; algumas de maneira explícita, outras nem tanto, mas o tom mais metafórico próximo levou os músicos a admitirem que veio dele e da sua obra a matéria para o texto. 

"Woke up this morning and it seemed to me, that every night turns out to be a little more like Bukowski. And yeah, I know, he's a pretty good read. But God who'd wanna be? God who'd wanna be such an asshole? God who'd wanna be? God who'd wanna be such an asshole?" cantam em "Bukowski" do disco de 2004, Good news for people who love bad news.

A banda irlandesa, que convidou o escritor para um dos seus shows em 1992 no Dodgers Stadium de Los Angeles - algo que depois o mesmo relatou com seu habitual pouco entusiamo e seu cinismo exacerbado -, lhe dedicou este "Dirty Day" do disco Zooropa (1993); o tributo da banda está concretamente exposto no verso "these days, days, days run away like horses over the hill".

Versos repletos de referências a escritores nesta música de 1991: "Being that I'm the duke of my domain, My hat goes off to Mark Twain, Singing a song about what true men don't do, Killing another creature that's kind of blue, Writing about the world of the wild coyote, Good man Truman Copote, Talking about my throughts 'cuase they must grow, Cock my brain to shoot my load, I'm on the porch 'cause I lost my housekey, Pick up my book I read Bukowski, Can I get another kiss from you, Kiss me right here on my tattoo".

Se há um músico que se identifica claramente com Bukowski esse é Tom Waits. Mas além de se parecerem até fisicamente, com o rosto cheio de cicatrizes, ambos encontraram na profundidade da lama dolorida a inspiração para seus textos. E Waits cita Bukowski como fonte de inspiração para sua música "Frank's Wild Years" (1993).

Essa banda de pop punk estadunidense não menciona o escritor diretamente, mas já admitiu sua influência em versos como "Let's get reckless like the ocean 'cause I'm careless like the sea. I watched you walk inside crowded room, trying to drink the void in you. We're all searching for something intagible, breaking moons apart to let the ocean know."

De novo uma música em que aparecem nomes de escritores e rostos populares, nesse caso começando por Charles "Bukowski's growing old this coffee's getting cold, I guess I'll never know why you closed the window, Start reading Hemingway, start drinking cups of Earl Grey, then I guess maybe one day... I'll be yours forever. I'm the best book you'll never read, you make me feel like Jimmy Dean, you make me feel like Morrissey when you undress from your best dress".

A banda inglesa utilizou a morte do escritor como metáfora para a curta letra de uma das músicas de seu aclamado disco Wake up, editado em março de 1995. "You'll never touch the magic if you don't reach out far enough", cantam num tema sensivelmente intitulado "Charles Bukowski is dead".

O grupo de rock inglês canta o escritor estadunidense imaginando sua maneira particular de ser e o seu universo como escritor. He gave Jesus tattoos and took the devil's soul, He got the angels drunk and gave them the gutter for a home. This is the ballad of the bullet proof poet. This is the ballad, don't I know it".

Qualquer um que tenha lido Bukowski identifica sua influência nestes versos escritos por Fito Páexz em 1988: "Pasábamos todo el día tirados en la cama, el tiempo maldita daga, lamiéndonos los pies. Brillaba, era una perla, y nunca hacia nada. Después dijo que me amaba y se hundió la Gillete. Sangró, sangró, sangró, y se reía como loca. No he visto luz ni fuerza viva tan poderosa. De todas ellas, ella fue mi frase más hermosa, todo su cuerpo con espinas y a mi me siguen las moscas".

10. How Water Music
Esta música se não está ligada diretamente ao nome de um grupo porque se trata de "Hot Water Music", um banda de punk rock da Flórida que adotou esse nome em homenagem a um dos livros de contos publicados por Bukowski em 1983 com o mesmo nome adotado pela banda. 

Ligações a esta post:

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Boletim Letras 360º #579

Boletim Letras 360º #573

Seis poemas-canções de Zeca Afonso

Confissões de uma máscara, de Yukio Mishima

A bíblia, Péter Nádas

Boletim Letras 360º #575