Dez filmes a partir da obra de Agatha Christie

Cena de Assassinato no Expresso Oriente, uma das produções mais luxuosas de uma obra de Agatha Christie.

Dos vários recordes acumulados pela Rainha do Crime, um deve ser o de autora cuja obra mais foi adaptada para o cinema. Basta olharmos que desde 1928 com o filme The passing of Mr. Quinn, o primeiro a usar um dos seus mais de oitenta romances, somam-se mais de quatro dezenas de produções cinematográficas.

A lista que preparamos a seguir é, portanto, apenas uma pequena amostra desse extenso e rico universo. Um dos critérios utilizados na elaboração foi o grau importância que o filme adquiriu ao longo da história ou aqueles que reúnem determinada peculiaridade indispensável na composição da aura de uma obra dessa natureza. São, por essa razão, títulos recorrentes em várias listas do gênero.

Amor de um estranho, de Rowland V. Lee (1937). “Cottage Philomel” é um conto de O mistério de Listerdale. O filme o primeiro sobre uma obra de Agatha Christie a ser produzido integralmente na Inglaterra. A narrativa tem muito da autobiografia da escritora inglesa, como lembram alguns críticos: Carol ganha na loteria, mas sua riqueza repentina leva a jovem a desentendimentos com o noivo Ronald que acaba rompendo o relacionamento. Carol, muito ingênua, depois de pouco tempo do fim do noivado, envolve-se com o misterioso Gerald, por quem se apaixona loucamente e acaba casando. Mas, o leitor atento fará a relação entre as duas histórias e perceberá que aquele romance do passado ainda não foi curado. Mais tarde a obra ganhou outra refilmagem, mas com o título de Receios.

O vingador invisível, de René Clair (1945). O caso dos dez negrinhos é descrito por Agatha como um dos livros que mais lhe deu trabalho; desenvolver tantas mortes numa única narrativa sem despertar suspeitas sobre o criminoso não foi tarefa fácil. E pensar que o projeto inicial previa 12 e não 10. Fato é que a obra se tornou uma das mais conhecidas da escritora; talvez pelo engenho de sua construção: dez pessoas recebem o curioso convite para passar o final de semana na Ilha do Negro; uma vez no local começam a morrer uma a uma misteriosamente. Já várias vezes ganhou o ecrã do cinema, como em 1965, E não sobrou nenhum (Geroge Pollock), mas a adaptação mais famosa é essa de René Clair por reunir no elenco nomes como Barry Fitzgerald, Walter Huston, Judith Andersone e Richard Haydn.

Cena de Testemunha de acusação, o único título da década de 1950 baseado na obra de Agatha.


Testemunha de acusação, de Billy Wilde (1957). Desde os anos 1920, a cada década se produziu pelo menos mais de um filme baseado na obra de Agatha Christie. Nos anos 1950, este foi o único título. Trata-se de uma adaptação de uma peça de mesmo título publicada em 1953 e conta a história de uma mulher que depôs contra o próprio marido no julgamento em que é acusado de matar uma senhora rica.

Quem viu, quem matou..., de George Pollock (1961). Esta produção dedica-se a colocar em cena a mais criativa invenção de Agatha Christie, a perspicaz Miss Marple. Quem interpreta a figura é uma das atrizes considerada a mais importante do cinema inglês, Margaret Rutherford, que faz sua primeira aparição num filme de proporção mundial. Imersa num universo forjado pela própria detetive Miss Marple busca desvendar quem foi o assassino da vítima encontrada estrangulada no interior de uma turbulenta família.

Sherlock de saias, de George Pollock (1963). O filme pertence à mesma linha do de 1961. É que depois do sucesso de Quem viu, quem matou... a MGM filmou outros quatro filmes cujo centro para revelação dos crimes era Miss Marple. O projeto, mesmo tendo alcançado rios de público nunca agradou Agatha pela audácia de reescrever sua obra a começar pelos títulos. Sherlock de saias, por exemplo, é o título para Depois do funeral; e no texto original, quem desvenda o caso não é Miss Marple, mas Hercule Poirot. O que se preserva é a investigação: depois do funeral do rico Richard Albernethie, a família se reúne num clube de hipismo e de então, Cora, sua irmã, solta a acusação de que Richard não morreu de causas naturais, mas foi assassinado.

Assassinato no Expresso Oriente, de Sidney Lumet (1974). O filme foi lançado como uma superprodução daquele ano; a julgar pelo elenco: Ingrid Bergman, Jaqueline Bisset, Sean Connery... Fiel ao texto original, Lumet não poupou esforços em reproduzir minimamente cada detalhe do luxo e do glamour da sociedade vitoriana. O filme foi logo sucesso de crítica e de público e ganhou prêmios de Melhor Filme, Ator e Atriz Coadjuvantes no Bafta e Ingrid Bergman arrebatou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.

Cena de Morte sobre o Nilo.

Morte sobre o Nilo, de John Guillermin (1978). Não foi apenas o filme de Lumet que chamou a atenção pela extensa produção de figurino; Morte sobre o Nilo reafirma o glamour da Era Vitoriana e veio recheado de grandes estrelas do cinema; desde Peter Ustinov, quem viveu Hercule Poirot, a Bette Davis e Mia Farrow. Guillermin também seguiu a cartilha de Lumet na composição da trama: manteve-se fiel ao título de Agatha Christie: uma jovem milionária é encontrada morta num barco que navegava no Rio Nilo, Egito, e todos a bordo são suspeitos pelo crime.

A maldição do espelho, de Guy Hamilton (1980). Baseado no romance de 1962, é mais um título em que traz a detetive Miss Marple interessada em descobrir o assassinato, agora, de uma mulher envenenada durante uma festa beneficente realizada por uma estrela do cinema estadunidense que havia se mudado a pouco para o pequeno vilarejo de St. Mary Mead. A crítica tem este como um dos títulos de Agatha com maior densidade psicológica. O filme tem Angela Lansbury no papel da detetive e nomes como Elizabeth Taylor.

Assassinato num dia de sol, de Guy Hamilton (1982). É mais um título que traz Peter Ustinov como Hercule Poirot.  Nele, a proprietária de um hotel, que fora já uma atriz de grande sucesso, é encontrada morta na praia particular da hospedaria. Apesar de ser uma adaptação lida pela crítica como uma das mais ruins já feitas da obra de Agatha, o título vale pela tentativa de preservar certa tradição das adaptações da obra da escritora desde os anos 1970: a de se manter fiel ao enredo do romance.

Encontro marcado com a morte, de Michael Winner (1988). Essa adaptação é um recontro de estrelas: Laura Bacall e John Gielgud já haviam atuado numa produção cuja narrativa tinha por base uma obra de Agatha Christie, Assassinato no Expresso Oriente. Esta foi a terceira e última vez que Peter Ustinov atuou como Hercule Poirot. Lido pelo The Observer com uma das peça mais interessantes que tem como pano de fundo o Oriente Médio (cenário que sempre encantou Agatha Christie), o filme coloca Hercule Poirot por acaso em meio a uma trama policial, diferentemente, portanto, de grande parte das situações de crime propostas pela escritora inglesa.


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