Postagens

As cores de Haruki Murakami

Imagem
Por Guilherme de Paula Domingos Haruki Murakami. Foto: Alvaro Barrientos Haruki Murakami é um escritor japonês que atualmente mora nos Estados Unidos. Nascido em 1949, ele já ganhou mais de 15 prêmios literários e publicou mais de 25 livros, transitando entre gêneros como o romance, o conto e o ensaio. Até agora, a sua obra foi traduzida para 50 idiomas e várias de suas histórias possuem adaptação para o cinema, como o recente Drive My Car (Ryüsuke Hamaguchi, 2021), filme ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022, baseado em um conto de mesmo título da sua autoria.   O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação é o décimo terceiro romance de Murakami e foi publicado no Japão em 2013. Os romances do autor são comumente descritos pelo uso do realismo mágico, mas esse em especial foge da característica porque exibe poucos dos traços usuais de seu estilo; seus romances geralmente mostram um vilão sem rosto, gatos que falam ou desaparecem, passagens secretas, mundos

2024: O ano em que G. H. virou um palimpsesto

Imagem
Por Renildo Rene Texto, interpretação e imagem. Clarice Lispector esteve sempre fugindo da mensagem óbvia. O que escreveu e o porquê escreveu se tornou embrião dos seus significados — significados estes que são procurados nas suas ficções, crônicas, entrevistas, adaptações teatrais e cinematográficas. Do seu emblemático romance de estreia Perto do coração selvagem (1943) que lhe rendeu comparações a Virginia Woolf à reconhecida novela A hora da estrela (1977) reacendendo um debate antigo sobre a distância intelectual do escritor e os ditos problemas sociais, a escritora colocou no signo da língua a possibilidade da palavra de ser entendida de diferentes formas, em todo momento que sua obra e sua figura eram/ são reutilizadas por outrem.   Para A paixão segundo G. H. , seu espetacular quinto romance, a incorporação desse mistério, em constante repetição nas últimas décadas, ocorre em frente aos nossos olhos. Publicado originalmente em 1964, o romance é a famosa causa da escultora ca

Afropessimismo, de Frank B. Wilderson III

Imagem
Por Eduardo Galeno Frank B. Wilderson III. The Nation. Olhavam para nós como se fôssemos zebras — James Baldwin, Se a rua Beale falasse     Some day, some day, lord Some day I'll, I shall wear a starry crown — cantado por Shirley Ann Lee     e há, mais majestoso ou diferentemente majestoso, mais soberano ou diferentemente soberano, a majestade da poesia ou a majestade do absurdo, na medida em que ela dá testemunho da presença dos humanos. — Jacques Derrida, A besta e o soberano     Uma frase introdutória: o fim do mundo é o começo da total insurreição negra. O texto do livro de Frank B. Wilderson III expõe o drama. Um drama pelo qual a negritude — forma senciente do corpo que descende da África — pega o bonde da história, do horror da história, da carnificina em que se desmonta. Texto carregado de vozes, histórias e sentidos — a cadeia significante que a brutalidade narrativa de um afropessimista pôde propor para nós, leitores (negros ou não). Brutal porque o texto de Frank se apo

Byron, o eterno peregrino

Imagem
Por Luis Castellvi Laukamp Lord Byron. Théodore Géricault. Dos poetas da segunda geração romântica inglesa (Keats, Shelley, Byron), Lord Byron foi o único que teve sucesso em vida. Celebrado nacional e internacionalmente, conhecido por sua exuberante vida amorosa, o poeta cultivou uma reputação de libertino. Foi, por assim dizer, o Mick Jagger do romantismo. Uma das amantes abandonadas por ele o descreveu como “mad, bad, and dangerous to know” (louco, malvado e perigoso de se conhecer). A frase ainda ressoa na Inglaterra, a tal ponto que uma peça sobre Byron na Abadia de Newstead (a ancestral mansão de sua família) é precisamente intitulada Dangerous to Know .   E foi cercado por vários escândalos (um ruidoso divórcio, rumores de incesto e bissexualidade) que Byron deixou a Inglaterra com sua reputação em xeque. Percy Bysshe Shelley fez o mesmo. Os dois se conheceram na Suíça em 1816, onde Mary Shelley escreveu Frankenstein . Eles se encontraram novamente em Veneza, quando Shelley visi

Boletim Letras 360º #580

Imagem
Orhan Pamuk. Foto: Basso Cannarsa. LANÇAMENTOS   Em romance ambicioso, com ecos de Tolstói, o escritor Prêmio Nobel de Literatura Orhan Pamuk utiliza ampla pesquisa histórica para dar vivacidade de detalhes ao universo da ilha fictícia de Mingheira, que enfrenta uma pandemia avassaladora no começo do século XX .   Uma nova doença começa a fazer vítimas em uma ilha do Império Otomano, no começo do século XX. O Químico Real do Sultão é enviado de Istambul para controlar a situação, mas é assassinado. A princesa Pakize e seu marido epidemiologista logo são despachados para o local para investigar, e assim se inicia uma saga sem igual na literatura contemporânea. Enquanto os cadáveres se empilham devido a esta enfermidade avassaladora, as questões culturais, como antagonismos religiosos e suas consequências políticas, interferem diretamente na maneira como os moradores lidam com a ameaça de saúde pública. Partindo dessa premissa tempestuosa, Orhan Pamuk esboça os principais traços de seu r

O pensamento crítico de José Guilherme Merquior

Imagem
Por Herasmo Braga José Guilherme Merquior. Foto: Fernando Bueno.   Se a literatura brasileira quando comparada com as da velha Europa é vista como jovem, sem com isso desapontar em face das grandes produções, a produção intelectual em nosso meio advoga para si a maturidade de análises de grandes pensadores com significativas produções. São evidentes as envergaduras intelectivas de vultosos intérpretes da nossa cultura, ideias, aspectos históricos, filosóficos, literários, a exemplo de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Antonio Candido, Boris Fausto, Luiz Costa Lima, entre muitos outros, que nada deixam a dever quando cotejados aos basilares pensadores do século XX no mundo. Dessa gama de imponente representatividade, destacamos José Guilherme Merquior. O propósito destas linhas é problematizar, por meio de microideias, algumas questões diante do seu vigor intelectual, tendo como norte a inquietação expressada por muitos: de que maneira podemos reavaliar a obra e pensamento de